Originalmente Publicado no Correio Braziliense
Publicação: 25/01/2010
No mapa dos museus do Distrito Federal (DF), o Museu Nacional da República poderia ser considerado um caso de sucesso. Durante 2009, 789.633 visitantes passaram pelas 26 exposições montadas na oca projetada por Oscar Niemeyer. Todo tipo de mostra ocupou o local. Houve exposição institucional patrocinada por empresa espanhola, histórica em homenagem a JK e de design. A mais visitada, no entanto, era consagrada à produção de artistas contemporâneos. Impressões recebeu 69.538 pessoas. Sinal de que a vocação do maior museu da cidade pode ser mesmo a difícil e criticada arte contemporânea. O perfil da instituição é algo que a equipe responsável pelo museu constrói a cada ano com muita observação, erros e acertos e uma boa dose de trabalho duro.
O Museu Nacional da República tem conseguido atrair um bom público para as atividades que promove
Inaugurado em dezembro de 2006, o museu iniciou suas atividades sob fogo cruzado. As instalações foram abertas ao público antes mesmo de um projeto para definir a função da casa. Quase três anos depois, a instituição já conta com acervo, regimento e público crescente. A situação orçamentária não é diferente daquela enfrentada por seus irmãos pertencentes à Secretaria de Cultura do DF. O museu não tem orçamento próprio nem uma associação de amigos, o que facilitaria a execução de projetos de exposição.
O modelo de gestão ainda é indefinido — não se trata de uma autarquia nem de uma parceria com uma Organização Civil de Interesse Público (Oscip) — e uma série de problemas estruturais pairam sobre o prédio de Niemeyer. Mas dentro de um mapa catastrófico, o Museu Nacional da República é um privilegiado. A equipe de 41 pessoas — incluindo 12 vigilantes e nove estagiários — é a maior de todos os museus da secretaria. Na semana passada, a aprovação de uma emenda parlamentar proposta pelo deputado Geraldo Magela (PT) garantiu R$ 1 milhão para equipar a reserva técnica com os móveis necessários à armazenagem das obras de arte.
O recurso vai ajudar a construir as condições adequadas para a instituição abrigar o acervo do Museu de Arte de Brasília (MAB) e o conjunto de 298 obras doadas pela Polícia Federal (1), fruto de apreensão em operação de combate ao tráfico. Wagner Barja, diretor do museu, também quer destinar parte do dinheiro a um salão de arte com prêmio aquisitivo. “Não temos um prêmio nacional em Brasília e, no cinquentenário da cidade, a gente quer marcar esse território num plano mais continuado de prêmios”, avisa.
A agenda de 2010 inclui uma série de exposições internacionais que começa com obras do espanhol Joan Miró durante a comemoração dos 50 anos da cidade. Ao longo do ano, o museu deve receber mostra sobre a escola Bauhaus e obras do alemão Joseph Beuys. Entre os destaques brasileiros está uma retrospectiva da trajetória de Lucio Costa.
Após 2,5 anos à frente da instituição, Wagner Barja acredita que o saldo é positivo, mas ainda se aflige com uma boa quantidade de problemas. “A indefinição institucional não dá uma perspectiva clara a médio prazo para o equipamento. A gente faz porque é guerreiro, topa tudo, é meio voluntário. Provamos que o equipamento teve uma recepção pública muito favorável, mas ele não se institucionaliza, não se batiza”, lamenta, lembrando que cabe aos parlamentares do Distrito Federal decidir se o museu será uma autarquia ou entidade administrada por Oscip.
Também é preciso fazer ajustes no prédio para adequá-lo às normas de acessibilidade e encontrar uma solução para os estacionamentos externos. A falta de fiscalização facilita o estacionamento em locais proibidos e dificulta o acesso à instituição. “O caos urbano impossibilita até o movimento técnico do museu. Isso me dá prejuízo de queda de público em pelo menos 40% durante a semana. Ainda bem que (o museu) fica próximo à Rodoviária, na qual passam 800 mil pessoas por dia. Trabalhamos diariamente com 0,5% desse público”, diz Barja. “A gente vai tomando providência à medida que vai convivendo com o equipamento. O museu é um Titanic no Lago Paranoá e estamos vivendo um momento de muita fragilidade.”
Acervo precioso
O lote apreendido pela PF foi o primeiro passo para constituir um acervo para o Museu Nacional da República. O conjunto é formado especialmente por arte moderna brasileira e trouxe para Brasília obras de artistas como Anita Malfati, Cândido Portinari, Alfredo Volpi, Cícero Dias, Milton Dacosta, Alberto da Veiga Guignard e Samson Flexor.
Reforma indefinida
O abandono do Museu de Arte de Brasília (MAB) é um capítulo na história do Museu Nacional da República. Não há como falar de um sem citar o outro. “Somos irmãos”, brinca Glênio Lima, diretor do MAB, interditado em junho de 2007 pelo Ministério Público do Distrito Federal porque o acervo corria risco de ser danificado. O conjunto de 1.300 obras foi então guardado em uma sala do Museu Nacional e, durante alguns meses, seus administradores cogitaram a fusão das duas instituições. Polêmica, a ideia continua em pauta, embora um projeto arquitetônico para reforma do MAB já circule na Secretaria de Obras. “A gente está sempre sobressaltado com as coisas, mas o que hoje interessa é essa reforma. Estamos o tempo inteiro correndo atrás e, segundo a Secretaria de Obras, vai ser feito sim. Eles dizem que só depende de detalhamento do projeto”, garante Glênio Lima.
Concebido pela arquiteta Zeli Dubinevics, subsecretária de Políticas Culturais, o projeto inclui reformulação das instalações elétrica e hidráulica do prédio, adequamento da reserva técnica, salas de exposição, auditório e café, além de uma área destinada à reconstituição do ateliê de Rubem Valentim, com objetos doados pela família e amigos do artista. O projeto está na Secretaria de Obras, que aguarda a liberação de R$ 218 mil da Secretaria de Cultura para realizar o detalhamento necessário ao início das obras. Segundo assessoria do gabinete da Secretaria de Obras, o processo de detalhamento levaria 120 dias e a licitação para a reforma poderia começar logo em seguida, se houvesse recursos disponíveis para tal. O problema é que tal recurso ainda não existe.
Pontos fracos
# Falta de acessibilidade
# Carpete: um inconveniente para ambientes de museus, pois acumula fungos que podem migrar para as obras
# Elevador de carga: mal projetado, não comporta a entrada de obras em grande formato
# Enquanto não se conclui o processo de licitação que permitirá o funcionamento do restaurante no prédio circular ao lado do museu, o jeito é comprar água nos camelôs
Pontos fortes
# A reserva técnica, ainda em fase de montagem, permite o armazenamento das obras em perfeitas condições de climatização e acondicionamento
# A proximidade com a Rodoviária facilita o acesso e a democratização do espaço
# Os 7.844 m² de área expositiva atendem às normas mais exigentes de grandes museus internacionais
# No subsolo, uma sala destinada exclusivamente à segurança do museu abriga sistema ininterrupto de monitoramento de câmeras.
Adorei a postagem.
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